sexta-feira, outubro 07, 2005

Quando Eu Era Pequenino §5: Theatre Of Tragedy

Os Theatre Of Tragedy são uma banda norueguesa, oriunda de Stavanger, formada em 1993 e maioritariamente conhecida pelos seus primeiros álbuns, aqueles que despertam o nosso interesse. O seu contributo é fundamental para o metal gótico escandinavo, tendo o grupo sido um dos que mais lançou as suas bases, tendo o mérito de, se não inventaram, terem pelo menos popularizado e elevado a um nível inédito – ao ponto de se converterem no ponto de referência e inspirem inúmeras bandas – a técnica “Bela e o Monstro” (Beauty and the Beast), que consiste no uso simultâneo de grunhidos masculinos e de uma voz angélica de soprano. Têm a característica de escreverem as suas letras (as dos discos que prendem a nossa atenção) em inglês, exceptuando duas – Der Spiegel e Der Tanz der Schatten – que são em alemão. A banda degenerou a partir de 2000, ao se render ao universo da música techno, invertendo – ainda que não totalmente – o seu estilo habitual.

Em Stavanger existia uma banda chamada de Suffering Grief que era o embrião dos futuros ToT. Os Suffering Grief eram compostos por Raymond István (vocalista), Lorentz Aspen (piano), Tommy Lindahl (guitarrista) e Pål. Juntou-se-lhes em 1993, aconselhado por um amigo que trabalhava numa loja de discos de metal gótico, o baterista Hein Frode Hansen, que no mesmo ano deixara a banda Phobia (agora, Enslaved) e procurava agora uma nova dentro do mesmo estilo musical. Um amigo dos Suffering Grief, Eirik, disponibilizou-se para tocar baixo nos concertos.

A banda começou a trabalhar sobre algumas melodias de Lorentz às quais adicionaram letras de Raymond e alguns trechos de guitarra de Tommy e de Pål. Pretendiam a todo o custo não se transformarem numa segunda versão de Cathedral, uma das bandas de doom metal de então. Surge a primeira música: Lament of the Perishing Roses, ainda só com grunhidos e típicas vozes masculinas do death. O nome da banda acabou por ser mudado alguns meses depois para La Reine Noire, nome que só durou duas semanas, no fim das quais adoptaram o seu nome final: Theatre Of Tragedy. Foi por volta desta altura também – Abril de 94 – que Liv Kristine Espanaes Krull se juntou à banda, pois queria-se experimentar como resultaria a inclusão duma voz feminina. Foi tão bom o resultado que a banda incorporou definitivamente o conceito que acabou por se tornar a sua marca, com Liv tornando-se na figura de proa do grupo.

Em 94 foi gravada uma demo, com quatro canções, duas das quais acabariam por entrar no primeiro álbum, homónimo da banda, lançado em 1995, e que abria com uma música clássica e definidora do doom/death metal gótico: A Hamlet For a Slothful Vassal. Em 96 saiu Velvet Darkness They Fear, a nosso ver, o melhor álbum de toda a carreira dos ToT e um dos mais importantes e marcantes do metal no geral. Contudo, considera-se tipicamente que a banda atingiu o seu apogeu com o altamente aclamado Aégis (1998), que, porém, representou já uma evolução na sua musicalidade, com o fim dos grunhidos e passando a vocais masculinas mais limpas, num registo que abandonou o doom para se enquadrar no gótico mais clássico. Em 1999 foi lançado um EP – Virago – que acabaria por ser o seu último trabalho fiel às origens, antes de se converteram ao techno, para o qual já outros discos anteriores mostravam uma certa apetência, bem como um dos seus maiores clássicos: Der Tanz der Schatten.

Liv Kristene acabou por abandonar a banda em 2003 tendo prosseguido com uma carreira a solo e com o marido, no grupo Leaves’ Eyes, sendo substituída na formação dos ToT pela cantora Nell. Tommy Lindahl tinha já abandonado a banda anteriormente. Em 2001 foi lançado Closure, um álbum ao vivo que constitui um regresso ao passado death/doom metal.

Pessoalmente, considero merecedores de especial atenção a vocalista Liv, possuidora da voz mais angelical que já me foi dada a ouvir, e o teclista, Lorentz, que com 15 anos apenas ingressou na banda, sendo um dos meus pianistas preferidos, pelas suas melodias que não só inspiraram as primeiras músicas de ToT – facto bem revelador da sua importância na banda – e que são tantas vezes simples e repetitivas, mas irresistivelmente apaixonantes e belas. No que respeita aos discos, no primeiro destaque para Sweet Art Thou, ...A Distance There Is... e To These Words I Beheld No Tongue. O segundo álbum torna pecado escolhas, tal é a sua perfeição, mas inevitavelmente uma maior atenção recai sobre obras-primas como And When He Falleth (possivelmente, a melhor música de sempre da banda), Der Tanz der Schatten (que tem uma versão inglesa não menos boa, mas mais reveladora das tendências de música de dança de ToT: As The Shadows Dance) e The Masquerader and Phoenix. O último álbum, ainda que duma qualidade suprema, parece-me inferior aos anteriores, mas urge realçar Venus, Siren e Poppaea. A primeira demo homónima da banda e a música, homónima também, do EP A Rose For The Dead são as composições mais importantes a destacar fora da lista de LP.

ToT sind tot: amen!

Raymond & Liv

P.S. (póstumo): O texto é salvo de um blogue defunto, Apontamentos de Atenas, que, do seu projecto enciclopedista, se ficou por esta entrada. Em honra dessa banda grande, e da página enterrada, intacta, a estória.