Há, quando leio (ou vejo, como hoje) Corto Maltese, uma belle tristesse que me invade por aquele que justamente chamaram de «o último herói romântico». Pratt, escritor maior, desenhou esse marinheiro maltês a quem, no tempo em que a minha casa ficava num promontório (que era o mais longe que eu conseguia ir ao ventre do mar sem embarcar), eu acolhia sob o meu tecto, se ao menos ele me tivesse conhecido. Tenho a certeza do meu insolúvel anacronismo. Sempre que me abandonas, Corto, porque partes para uma qualquer outra aventura que fica fora das páginas de Pratt, sou uma daquelas mulheres formidáveis que povoam o teu mundo e se despedem sem um beijo e uma lágrima. Há uma certa nobreza nisto tudo irremediavelmente perdida pelo Tempo, o qual, como sabes, na sua pressa de correr, como quem desce uma rua muito rápida para apanhar o navio do cais, perde objectos de valor que lhe vão saltando dos bolsos na forma desorientada da velocidade com quem corre e, porque são pequenos e quando caem não fazem barulho, não nota senão a falta deles quando, no navio, já partido, no seu compartimento, percebe a sua ausência e se põe a pensar onde os perdeu. Quem me dera vaguear pelo mundo, sempre calmo e triste, e ver em cada mulher a sua justa beleza e em cada proposta uma aventura sem heroísmo. Sinto que te podia ter sido, não foras tu uma personagem de banda desenhada e um homem teu criador. Se ao menos pudesse dormir uma noite na tua terra de fábulas, Corto! Ai! Quando eu for grande, quero ser Corto Maltese.
baseado em factos
Há 25 minutos
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