Não pude - luta vã! - resistir à tentação de fabricar mais um blogue, olvidando o número excessivo dos que já construí, para os quais, em olhando, os visitantes vêem ruínas - quando nunca houve nada lá para que ruísse: são tão somente construções inacabadas. Porém, por muitos alicerces postos, nunca me dispûs ao que me disponho agora: um blogue no sentido original e imaculado do termo, onde, tão somente, sem preocupação, escreva, pouco ou muito, um pormenor qualquer que me chamou a atenção, os prelúdios de uma revolução ou as tristezas de um quotidiano mal fervido.
Estou a assumir muitos compromissos comigo mesmo: manter uma postagem ritmada, ainda que não periódica; conseguir minimamente não ser espantalho do meu próprio público por causa de artigos monótonos; não pensar muito no que escrevo aqui, apenas, inconsciente, escrever, como os dedos assim deslizarem pelo teclado - ininterruptos. Falar do que me ocorre - se algum valor tem, que sei que não.
A Varanda Amarela - porquê? Escrevo as primeiras linhas deste blogue da Universidade de Direito de Coimbra, do gabinete do meu pai. À minha frente, está uma janela, e, por de trás da janela, que a transparência revela, uma módica varanda, onde só dois pés - nem com espaço assaz para um valsa circular - cabem: é uma sepultura em pé. Talvez por isso as fechaduras da janela estão tão ferrugentes: ninguém quer o que está para além delas, como baú abandonado só com trapos errados da avó cujo nome já se esqueceu. E, curiosamente, a varanda é amarela. Dum amarelo desbotado certo, de quem tem fome, esbranquiçado, pálido, de quem morre - morre da fome, talvez. Mas foi esta varanda que eu escolhi para meu blogue. Dela contemplo todo um terraço onde alunos se movem, se agitam, se falam, se deslocam apressados ou param junto a um cinzeiro para deixar a beata. Daqui, miro o mundo. O ver verdiano de Cesário: atitude tão admirável! Mas a minha cidade não é Lisboa, nem Lisboa eu aqui relato: a minha Olissipo é o António, o Pedro, a Leonore, a Beatriz!
Não, não faço deste espaço cibernético confessionário, não! Mas é como quem diz que são as pessoas que lhe aproveitam, que lhe interessam: o mundo e suas circunvalações. O drama e tragédia do ser humano - o seu próprio drama até ou a notícia do jornal. O pensamento solto aqui achará agacho. O cordeiro - o subtil meandro de uma cogitação ou sentimento - dorme aqui com o leão - a grande construção eloquente de uma filosofia diferente. No fundo, A Varanda Amarela é um zoológico. Tudo entra por aqui adentro, como no quadro de Boccioni que começa esta pintura escrita (admirável Boccioni! Fervilhante futurismo!).
E a tudo, dou o espaço que multiplico.
Estou a assumir muitos compromissos comigo mesmo: manter uma postagem ritmada, ainda que não periódica; conseguir minimamente não ser espantalho do meu próprio público por causa de artigos monótonos; não pensar muito no que escrevo aqui, apenas, inconsciente, escrever, como os dedos assim deslizarem pelo teclado - ininterruptos. Falar do que me ocorre - se algum valor tem, que sei que não.
A Varanda Amarela - porquê? Escrevo as primeiras linhas deste blogue da Universidade de Direito de Coimbra, do gabinete do meu pai. À minha frente, está uma janela, e, por de trás da janela, que a transparência revela, uma módica varanda, onde só dois pés - nem com espaço assaz para um valsa circular - cabem: é uma sepultura em pé. Talvez por isso as fechaduras da janela estão tão ferrugentes: ninguém quer o que está para além delas, como baú abandonado só com trapos errados da avó cujo nome já se esqueceu. E, curiosamente, a varanda é amarela. Dum amarelo desbotado certo, de quem tem fome, esbranquiçado, pálido, de quem morre - morre da fome, talvez. Mas foi esta varanda que eu escolhi para meu blogue. Dela contemplo todo um terraço onde alunos se movem, se agitam, se falam, se deslocam apressados ou param junto a um cinzeiro para deixar a beata. Daqui, miro o mundo. O ver verdiano de Cesário: atitude tão admirável! Mas a minha cidade não é Lisboa, nem Lisboa eu aqui relato: a minha Olissipo é o António, o Pedro, a Leonore, a Beatriz!
Não, não faço deste espaço cibernético confessionário, não! Mas é como quem diz que são as pessoas que lhe aproveitam, que lhe interessam: o mundo e suas circunvalações. O drama e tragédia do ser humano - o seu próprio drama até ou a notícia do jornal. O pensamento solto aqui achará agacho. O cordeiro - o subtil meandro de uma cogitação ou sentimento - dorme aqui com o leão - a grande construção eloquente de uma filosofia diferente. No fundo, A Varanda Amarela é um zoológico. Tudo entra por aqui adentro, como no quadro de Boccioni que começa esta pintura escrita (admirável Boccioni! Fervilhante futurismo!).
E a tudo, dou o espaço que multiplico.
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