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sábado, março 21, 2009

Quoth the Raven §7: O Ciúme, D' Après Barthes


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2. Werther está preso a esta imagem: Carlota corta as fatias e distribui-as pelos irmãos e irmãs. Carlota é um bolo e esse bolo divide-se: cada um tem a sua fatia: não sou o único - em nada sou o único, tenho irmãos, irmãs, devo dividir, devo submeter-me a essa partilha: as deusas do Destino não são também as deusas da Divisão, as moiras - sendo a última, a Muda, a Morte? Além disso, se não aceito a divisão do ser amado, nego a sua perfeição, pois pertence à perfeição o dividir-se: Mélita divide-se porque é perfeita e Hipérion sofre com isso: «A minha tristeza era verdadeiramente sem limites. Foi preciso afastar-me». Assim, sofro duas vezes: pela própria partilha e pela minha impossibilidade de aceitar a sua nobreza.

[...]

4. Ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me censuro de o ser, porque temo que o meu ciúme fira o outro, porque me deixo submeter a uma banalidade: sofro por ser exclusivista, agressivo, louco e vulgar.
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Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso
(Tradução de Isabel Pascoal - Edições 70)


terça-feira, julho 01, 2008

Quoth the Raven §5: Como os Escritores Amam

"Não há palavras para descrever o ar matreiro do escritor português quando anunciou a María Kodama que lhe ia colocar duas questões "muito íntimas". [...] "Como é que Borges dizia que te queria?... Explica-nos, explica-nos!" [...] Kodama ria-se ao inicio e depois já estava às gargalhadas. "Que palavras utilizava para dizer que te queria...", continuava o autor português. [...] Maria e Jorge usavam vários nomes, a maior parte ligados à literatura. "Um desses nomes era tirado de um conto que ele me tinha dedicado em segredo e que se chama Ulrica. Quis gravá-lo no túmulo em Genebra e em lugar de María Kodama e de Borges coloquei o epitáfio 'De Ulrica a Javier Otárola', porque eram nomes muito especiais para nós. Ulrica vinha também um pouco da Elegia de Marienbad, de Goethe, que ele me recitava em alemão. Ulrike von Levetzow era o nome da jovem amante de Goethe e quando ele fazia amor com ela contava as sí la bas nas suas costas, acariciando-as com a mão. Bem, já está dito."
María Kodama, viúva de Borges, e José Saramago,
à conversa na Biblioteca Nacional, 20 de Junho de 2008.
ilustração: Borges, quando novo.