sábado, setembro 20, 2008

Bristol Memoirs §7: 20 do Idem - Summer In The City

E sábado a cidade fez big bang e explodiu: a multidão – porque é que «a multidão», sendo muita gente, é singular? – invadiu as ruas como um exército russo sobre praga 68 (ou geórgia 08 – escolha o leitor). No dia em que cheguei decorria a meia maratona da cidade; a rapariga simpática que me conduziu a mim e a M. ao YHA logo nos avisou sibila sábia da tendência festivaleira da cidade: e eis hoje a epifania dela. Cruzei-me com uma parada musical, do outro lado do rio montaram um palco de concertos, perto do subway (onde almoçámos de novo) decorria um festival de brincadeiras para crianças – tudo mexe. Bristol parecia um centro comercial português ao domingo. As ruas povoadas de jovens multiplicados hora a hora como coelhos, sentados nos bancos, no cais, nas calçadas, acompanhados de um copo de cerveja. Às seis já havia indivíduos bem consideravelmente alegres, mas no outro dia o George encontrou uns que iam jantar às cinco e um quarto portanto (primeiro estereótipo dos ingleses confirmado: para se divertirem, têm de se embebedar). Uma italiana em erasmus comentava precisamente isso comigo, quando me cruzei com ela e com o alemão de Hanover (comentava isso e que todas as raparigas inglesas se vestem como prostitutas, mas eu discordo desta última verdade, mesmo se encontrei duas mascaradas de Supermulher a fazer compras). O stroll nocturno pela cidade, para ir para o Backpackers (onde durmo hoje, à falta de quarto no YHA), foi, nesse ponto, elucidativo: dois rapazes a urinarem para dentro de um caixote do lixo, outro a mostrar o rabo a umas amigas, uma miúda a gaguejar os passos (e outra a segurá-la para não cair). A cidade, hoje, guarda-se acordada: passei pelas docas depois das onze e, contrariamente a todos os mais dias, aquilo agitava-se de vida, exuberante (e os bares anunciavam que estavam abertos até às 2 a.m., coisa loucamente tardíssima aqui).
Os meus companheiros de quarto (sete guys) surgiram não sei bem a que horas lá, porque dormia já, mas às dez da manhã ainda continuavam todos embalados e eu adormeci ao som do dioniso no bar ao lado do motel. Stokes Croft (a rua do Backpackers) é a rua revoltada, onde as paredes se agasalham de graffitis e posters de concertos underground. Longo caminho, na sua beira garrafas e lixo numa concentração incomum na cidade doutro modo limpa. Não posso deixar de sentir uma empatia natural pelo terreno – onde há rebeldia há uma sem causa paixão por ela em mim (e os punks nasceram na inglaterra). Ao lado do motel, uma imagem do Reservoir Dogs (a fazer brevemente: post Tarantino em Bristol). Bom ver aqui o graffiti reconhecido como arte: ainda há uns dias M. e eu víamos um túnel a ser decorado, perto de uma velha igreja; hoje passei-o completo: belíssima imagem, urbano-clássica.
Antes de ir para o Backpackers dormir, fiquei com o George, a contar-me a história da sua vida cada vez mais fascinante e a fazer-me um milagre: uma moeda a entrar numa garrafa ainda selada, comprada quinze minutos antes na Tesco (o Lidl cá do sítio). It’s a kind of magic. Entretanto, não me deram a casa que esperava. Vi uma nova, em santa clara, por cima de um bar espanhol: bom, mas a cozinha é ridícula. Perto, porém, havia um parque para fazer tempo e paz: quantos jardins esconde a cidade, como cartas ocultas na mão de George? Penso ter descoberto também onde encontrar uma prenda de natal/anos para ‘T (com acento circunflexo). Desenvolvi entretanto para o pai natal um conceito que vou guardar secreto agora – a informação, já dizia o Merovingian, é o bem mais precioso de todos.
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- ₤16.00 (Full Moon Backpackers); - ₤5 (carregamento telemóvel); - ₤2.60 (almoço); - ₤0.80 (água); - ₤1.44 (jantar); - ₤0.86 (água)
/foto: waterfront at night, Bristol/

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