quinta-feira, setembro 25, 2008

Bristol Memoirs §11: 25 do Idem - Mare Nostrum

O George está ao meu lado a ver uma revista cipriota (revista, esclareça-se, no sentido de espectáculo satírico musical, daquela lisboeta, só que no chipre). Estes dias têm sido uma aprendizagem dupla: tanto vou desbravando a inglaterra como o chipre, via George. Hoje à noite, aqui nos sofás, tivemos companhia internacional (essa a grande beleza de uma pousada): uma alemã, uma espanhola e um italiano, ligeirissimamente mais velhos que nós (tudo isto me faz lembrar tanto o Albergue Espanhol). O George massajou a conversa, com um espectáculo de magia (e fez outra vez o milagre da garrafa de água – e confirmou que irá, se tudo correr bem, andar sobre o Avon, como Cristo). A alemã, talvez já cansada pelas horas (o coche da cinderela já tinha regressado a abóbora), não participou muito ou talvez se tenha apenas sentido discriminada enquanto falávamos sobre o mediterrâneo que nos ligava. Desde o meu verão grego que percebo que a grande divisão na europa não é tanto entre oeste e leste, mas muito mais entre norte e sul (li essa diferença pela primeira vez em Tolkien, no seminal ensaio do pai sobre o Beowulf). George, a pedido do italiano, falou das relações entre os cipriotas gregos e turcos: história desconhecida, que o carteiro da televisão não nos leva a casa, uma pequena palestina (é muito possível que faça a próxima crónica sobre isso). A guerra, amante do voyeurismo, está sempre à espreita. As Nações Unidas, uma vez mais (vezes de mais), mostram-se ineficazes e os EUA parecem proteger os turcos. A tia dele, aquando da invasão turca, foi violada, o tio morto. 1800 pessoas não se sabe onde estão e as mães arrastam as fotos deles para a fronteira e deixam ali em silêncio os facebooks dos filhos perdidos. Isto passa-se num país da União. (a parte interessante do dia de ontem era precisamente sobre o chipre, mas preciso que o George ma repita; como está agora a ver a revista no GoogleVideo, suponho que tenho de adiar a promessa – e eis pois que, mais uma vez na vida, falhei).
Fui hoje à Borders, uma das maiores livrarias da cidade, encravada entre a Uni e a Union: perdição de fnac (algures lá, julgo poder ter descoberto a prenda de natal do meu irmão). Entre a roubalheira geral que são as coisas aqui, sobrevivem, numa ilha à margem, os bens culturais (cds, dvds e livros): as peças completas de Tchékov por apenas ₤12.99, numa edição de capas belíssimas. O cuidado posto na aparência dos livros (que em portugal só acho na Cavalo de Ferro e na Tinta da China) é, aliás, uma das coisas que mais me apaixona na cultura inglesa. O livro ganha aqui um valor estético exterior que acompanha a mestria literária interior (é o ideal da kalokagathia). Passei pela livraria de Humanidades, coisa brobdingnaguiana, em obras de restauração. Secção enorme de escritores russos: roubei Os Filhos do Sol, de Gorki (ainda não fui ao teatro este mês). Melhores notícias: devo-me afinal mudar domingo já. Por enquanto, mudo amanhã de quarto, depois de amanhã de hotel. Já alguém visitou o Chipre?
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- ₤49 (YHA); - ₤3.29 (almoço); - ₤3.30 (jantar); - ₤2.30 (chá + água + internet)
/foto: bandeira do chipre/

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